O Japão tem uma cultura riquíssima — e isso também se reflete nas brincadeiras japonesas tradicionais infantis. Muitas delas são praticadas há gerações, e até hoje aparecem em escolas, festivais e animes. Aqui vão sete das mais conhecidas (e divertidas!)
Brincadeiras Japonesas- Índice
1.Daruma-san ga Koronda (だるまさんがころんだ)
Uma das brincadeiras mais populares do Japão, especialmente entre crianças do ensino fundamental. Ela é uma mistura de pega-pega com estátua, o objetivo principal é se mover sem ser visto — e congelar completamente quando o “oni” se vira.
Funciona assim: uma criança é escolhida como o oni (pegador) e fica de costas para os demais jogadores, a uma certa distância. Os outros participantes se alinham atrás, em um ponto combinado que serve como linha de partida.
O oni então grita:
「だるまさんがころんだ!」 (“O Daruma caiu!”)
— e, assim que termina de dizer a frase, se vira rapidamente para encarar os outros jogadores.
Enquanto o oni fala, os demais correm em sua direção. Mas assim que ele se vira, todos devem congelar.
Quem for visto se mexendo deve voltar para a linha de partida.

O objetivo dos jogadores é chegar até o oni e tocá-lo sem serem pegos. Quem conseguir, vence ou se torna o novo oni (dependendo da regra combinada).
Diferente de outras brincadeiras de corrida, aqui o desafio está em ficar parado no momento certo. Por isso, o jogo é usado até em contextos de educação especial ou atividades de grupo, com variações mais acessíveis — como ver quem consegue ficar mais tempo sem se mexer.
Caso você não saiba o que é um daruma, aqui já temos um artigo sobre isso:
Daruma, o Amuleto da sorte e perseverança
2. Takenoko Ippon Okure (たけのこ一本おくれ)
Essa brincadeira é uma variação do estilo “oni” (pegador), muito popular nas escolas japonesas. O nome significa algo como “Me dá um broto de bambu”, e sim, o jogo simula literalmente a tentativa de arrancar brotos da terra — ou melhor, de puxar os colegas!
Como funciona:
Uma criança é escolhida como o oni, responsável por “arrancar os brotos”. As demais fazem o papel de takenoko (brotos de bambu).
O primeiro broto se agarra firmemente a uma árvore ou poste. Os demais formam uma fila atrás dele, segurando na cintura da criança à frente.

O oni grita:
「たけのこ一本おくれ!」 (“Me dá um broto de bambu!”)
— e os jogadores respondem com:
- 「まだ芽がでない」Mada Me ga denai! (“O broto ainda não nasceu!”) se não estiverem prontos
- 「もう芽がでたよ」Mou Me ga deta yo! (“O broto já nasceu!”) quando a fila estiver pronta para começar
Com isso, o oni tenta puxar o último da fila dizendo 「よいしょ、よいしょ」 enquanto força para soltá-lo da corrente. Os jogadores se esforçam para resistir e manter a fila unida.
Se o oni conseguir puxar alguém, canta 「たけのこ一本ぬけた〜」
“Takenoko ippon nuketa!”
e leva o jogador “arrancado” para seu lado. O jogo continua até ele conseguir separar todos.
A brincadeira é inspirada na imagem de um broto de bambu sendo arrancado com esforço. Curiosidade: o nome takenoko vem de “竹の旬”, ou seja, “a época ideal do bambu” — que dura cerca de 10 dias antes que ele cresça e vire um bambu de verdade.
Também há brincadeiras parecidas em outros países, como o “Marcha do Ganso” na Alemanha ou o “Tompeete” no México, que também envolvem puxar e separar jogadores.
3. Pokopen (ポコペン)
Essa brincadeira mistura esconde-esconde com adivinhação, e é cheia de tensão e estratégia. Muito popular entre crianças japonesas, ela exige atenção, memória e rapidez.
Como funciona:
Escolhe-se um ponto de referência, como uma árvore ou poste, que será o “centro do jogo”.
Uma criança é escolhida como o oni (pegador) e se posiciona virada para o ponto, com a cabeça abaixada e os olhos fechados.
Enquanto isso, os outros jogadores se aproximam do oni pelas costas e cantam em coro:
「ポコペン、ポコペン、だ~れがつっついたポコペン!」
pokopen, pokopen, dare ga tsuttsuita pokopen!
(“Pokopen, Pokopen, quem cutucou o Pokopen?”)
Uma das crianças cutuca o oni pelas costas ao final da música.
O oni deve tentar adivinhar quem foi a última pessoa a cutucar.
- Se acertar, a criança adivinhada vira o próximo oni.
- Se errar, o oni começa a contar de 30 a 50 segundos, enquanto os outros jogadores correm para se esconder.
Fase do esconde-esconde:
Depois da contagem, o oni vai procurar os jogadores escondidos. Quando encontra alguém, deve correr de volta ao ponto central e tocar nele dizendo:
「[Nome da criança]ちゃんポコペン!」
Ex: “Yui-chan Pokopen!”
- Se acertar o nome e conseguir tocar o ponto antes da criança que estava escondida, a captura é válida.
- Mas se errar o nome ou a criança tocar no ponto primeiro dizendo “ポコペン!”, ela está salva — e o oni continua procurando os demais.

O jogo termina quando:
- Todos os jogadores forem encontrados → o oni vence.
- Alguém escondido conseguir tocar o ponto sem ser visto e dizer “Pokopen!” → o oni perde e recomeça.
Em algumas regiões, quem for o primeiro a ser pego vira o próximo oni, mesmo que o atual não tenha vencido.
A brincadeira depende muito da atenção e rapidez do oni — e é ótima pra gastar energia brincando ao ar livre.
4. Kendama (けん玉)

Brinquedo tradicional de madeira com uma bola presa por barbante. O objetivo é encaixar a bola nas cavidades do suporte (ou equilibrá-la na ponta).
No Ocidente, temos um brinquedo muito parecido, chamado bilboquê — a principal diferença está no formato: enquanto o bilboquê costuma ter uma única cavidade, o kendama tem três copos laterais e uma ponta afiada, o que permite uma variedade muito maior de manobras.
Apesar de parecer simples, exige bastante coordenação motora e prática.
Aliás, o kendama é levado a sério no Japão — existem campeonatos, níveis de certificação e até apresentações com truques bem avançados!
5. Fruits Basket (フルーツバスケット)
Uma brincadeira tradicional e super popular em escolas japonesas, especialmente no ensino fundamental.
Os jogadores formam um círculo com cadeiras — uma a menos que o número total de pessoas. Cada participante recebe o nome de uma fruta (ex: maçã, banana, laranja), e os nomes devem estar distribuídos de forma equilibrada no grupo.
Uma pessoa começa no centro do círculo (sem cadeira) e grita o nome de uma das frutas.
Todos os jogadores com aquele nome devem se levantar e trocar de lugar rapidamente. Enquanto isso, quem está no centro tenta se sentar em uma das cadeiras vagas.

Quem ficar sem cadeira vai para o centro e a rodada recomeça.
Em vez de chamar uma fruta, o jogador do centro pode dizer “Fruits Basket!”, obrigando todos os jogadores a trocarem de lugar ao mesmo tempo, gerando mais confusão e risadas.
A brincadeira é tão querida que inspirou o nome do famoso mangá/anime Fruits Basket, onde o título representa tanto a exclusão quanto a tentativa de pertencimento — tema central da história da protagonista Tohru Honda.
6. Otedama (お手玉)
Otedama é uma brincadeira tradicional japonesa que usa saquinhos de tecido recheados com feijão azuki ou miçangas.
É tipo uma mistura de malabares com ritmo — bem simples de começar, mas dá pra ir evoluindo e deixar mais difícil com o tempo.
Como funciona:
Você pode jogar sozinho ou com outras pessoas. O básico é assim:
Comece com um saquinho só
Joga pra cima com uma mão e pega com a mesma mão. Depois tenta alternar entre as duas.
Com dois Otedama
Segura dois saquinhos na mesma mão. Joga um pra cima, passa o outro pra outra mão, e aí pega o que caiu. Parece simples, mas exige ritmo.
Aumente a dificuldade
Se estiver confiante, tenta com três ou mais. A ideia é ir jogando e pegando em sequência, tipo malabarismo mesmo — mas num ritmo mais leve.
Algumas dicas:
• Comece jogando bem baixo, pra manter o controle
• Tenta seguir um ritmo constante, tipo batida de música
• E vai devagar no começo — com o tempo, você pega o jeito
Por que o Otedama é legal?
• É ótimo pra coordenação e concentração
• Dá pra brincar sozinho ou com outras pessoas
• E apesar de parecer simples, é um daqueles jogos tradicionais fofos que a gente respeita… mesmo que mal consiga jogar
Confesso: eu admiro mais do que pratico. Mas acho lindo ver quem sabe jogar bem!
7. Hana Ichi Monme (花一匁)
Uma das brincadeiras em grupo mais tradicionais do Japão. Duas equipes se formam e ficam de frente uma para a outra, de mãos dadas.
As equipes caminham alternadamente para frente e para trás, cantando a música “Hana Ichi Monme”, que dá nome ao jogo. A letra e a coreografia criam um ritmo de “empurra-puxa” divertido e bem marcante.
Ao final da música, os líderes das equipes fazem janken (pedra-papel-tesoura). O grupo vencedor escolhe alguém da equipe adversária para “comprar”, e cantam novamente anunciando a escolha.

O jogo continua até que uma das equipes perca todos os integrantes.
Curiosidade: “Hana Ichi Monme” significa literalmente “uma flor por um monme”, sendo monme uma antiga moeda de prata do período Edo.
Essas são algumas das brincadeiras que fazem parte da infância de muita gente no Japão — e que continuam vivas até hoje, seja nos recreios, nos festivais ou até nos animes. Algumas são super simples, outras exigem prática (ou coordenação, que eu não tenho 😅)
Qual delas você gostaria de tentar?