Daidarabocchi é uma figura mítica do folclore japonês, frequentemente descrito como um gigante colossal cuja presença influenciava drasticamente a paisagem.
Origens e Significado
A origem da lenda de Daidarabocchi remonta a antigas crenças xintoístas e budistas, onde gigantes e seres sobrenaturais eram considerados agentes de criação e destruição. Na mitologia xintoísta, grandes seres são frequentemente associados a fenômenos naturais e a formação da terra. Alguns estudiosos acreditam que Daidarabocchi pode ter sido inspirado por contos sobre os deuses da criação Izanagi e Izanami, que moldaram o arquipélago japonês.
O nome “Daidarabocchi” em si já carrega um significado intrigante. A palavra “Daidara” pode ser interpretada como “grande” ou “enorme”, enquanto “bocchi” é uma distorção de “bōzu”, que significa monge ou homem careca. Isso sugere que Daidarabocchi poderia ter sido visto como um ser espiritual, talvez um monge gigante, o que ressoa com a ideia de um ser que não é apenas imenso em tamanho, mas também possivelmente sábio ou conectado ao divino.
Além disso, a figura do Daidarabocchi pode ter sido uma forma de explicar grandes características geográficas de uma maneira que as pessoas comuns da época pudessem entender. Em uma era antes da geologia moderna, gigantes eram uma maneira poética e culturalmente relevante de dar sentido ao mundo ao redor. O Daidarabocchi, com seu imenso tamanho, poderia mover montanhas, cavar vales e criar lagos com um simples toque de sua mão ou pé, oferecendo uma explicação para a topografia dramática e variada do Japão.
Ao longo dos séculos, essas histórias foram passadas oralmente, evoluindo e se adaptando conforme se espalhavam por diferentes regiões do Japão, cada uma adicionando suas próprias variações e detalhes à lenda do gigante..
Aparência
Daidarabocchi é um gigante de proporções inimagináveis, tão grande que sua cabeça tocaria o céu enquanto seus pés cobriam vales inteiros.
Diz-se que seu corpo é robusto e poderoso, capaz de alterar a paisagem apenas ao caminhar. Em algumas lendas, ele é representado com uma figura humanóide, mas de características extremas: braços e pernas incrivelmente longos e musculosos, que se estendem por quilômetros. Sua pele é muitas vezes comparada à cor das montanhas, seja de um marrom escuro ou preto, como se estivesse coberta por uma espessa camada de musgo ou lama.
Ookushi no Oka e daidara bocchi
Ookushi no Oka, também conhecido como Daidarabocchi no Oka, é um local na província de Ibaraki, no Japão, que se relaciona diretamente com as lendas sobre Daidarabocchi. Este local é conhecido por seu valor arqueológico. A região é o local do sítio arqueológico Ookushi Kaizuka, um sítio Jomon de grande importância. Lá é possivel ter uma ideia de como as pessoas desse período viviam.
O Ookushi Kaizuka, localizado na cidade de Mito, é uma antiga pilha de conchas da era Jomon, e é conhecido por ser o exemplo mais antigo registrado em textos históricos japoneses de um sítio arqueológico com restos de conchas documentado. Além de ser o monte de conchas mais antigo do mundo, com mais de 5000 anos de existência.
Na obra “Fudoki de Hitachi“, compilada durante o período Nara, Ookushi no Oka é mencionado como um lugar onde um “homem gigantesco” residia. Esse “homem gigantesco” é interpretado pelos estudiosos modernos como uma referência ao Daidarabocchi, ligando o local à lenda do gigante que molda o mundo com suas mãos.
A lenda contada no “Fudoki de Hitachi” descreve que este gigante costumava alcançar o mar a partir da colina para pegar grandes mariscos, que comia ali mesmo. As conchas descartadas por ele teriam eventualmente se acumulado, criando a própria colina que hoje conhecemos como Ookushi no Oka. Com o passar do tempo, o nome original “Ookuchi” (大朽, que significa “grande decomposição”) teria se transformado em “Ookushi” (大櫛), indicando a relação entre o acúmulo de conchas e o yokai gigante.
O local é cercado por várias descobertas arqueológicas, incluindo artefatos da era Jomon, como fragmentos de cerâmica, ferramentas de pedra e ossos de animais, refletindo a riqueza cultural e histórica da área. Essas escavações revelaram uma combinação de conchas de água doce e salobra, sugerindo que o local foi uma entrada de mar no período Jomon, onde os rios encontravam o oceano.
Atualmente, é possível visitar o parque Ookushi kaizuka, o ponto turístico conta com uma estátua de 15m em homenagem ao Yokai gigante.
A associação de Ookushi no Oka com o Daidarabocchi não é apenas uma conexão entre a história e a mitologia, mas também um exemplo de como lendas podem se entrelaçar com a realidade geográfica e arqueológica. A área também tem sido objeto de literatura moderna, como no romance de mistério “O Gigante de Iso” de Seicho Matsumoto, que explora a lenda do gigante e as implicações misteriosas que ela pode ter para a narrativa moderna.
Lendas
A Criação do Monte Fuji
Uma das lendas mais famosas relacionadas ao Daidarabocchi diz respeito à formação do Monte Fuji, a montanha mais alta e sagrada do Japão. Segundo a lenda, o Daidarabocchi desejava criar uma montanha imponente e, para isso, retirou grandes quantidades de terra da província de Kai (atual Yamanashi), no centro do Japão. O solo escavado foi empilhado para formar o Monte Fuji. Como resultado dessa escavação, a área da província de Kai se transformou em um vale, conhecido hoje como a Bacia de Kōfu.
Outra variação da lenda afirma que o Daidarabocchi cavou a terra da região de Ōmi (atual província de Shiga) para construir o Monte Fuji. O buraco deixado pela escavação tornou-se o Lago Biwa, o maior lago do Japão. Essa conexão mitológica é tão significativa que, em 1968, as cidades de Fujinomiya, na província de Shizuoka, e Ōmihachiman, na província de Shiga, se tornaram “cidades-irmãs”, simbolizando a ligação entre o Monte Fuji e o Lago Biwa criada pela lenda.
A Criação do Lago Hamana
De acordo com uma das lendas, o Daidarabocchi vivia nas montanhas de Enshū, uma região do Japão que abrange parte da província de Shizuoka.
Um dia, enquanto andava pela área com seus filhos sobre as mãos, o gigante tentou atravessar uma montanha que alcançava a altura de sua cintura. No entanto, ao dar o passo, ele acidentalmente lançou as crianças para fora de suas mãos. Assustados pela queda inesperada, tanto o Daidarabocchi quanto seus filhos começaram a chorar. As lágrimas derramadas pelo gigante escorreram pelas suas mãos, formando uma grande depressão no solo. Essa depressão eventualmente se encheu com as lágrimas, criando o que é conhecido hoje como o Lago Hamana.
Cultura Pop
Na cultura pop, o Daidarabocchi tem algumas referências notáveis. Por exemplo, o Pokémon Regigigas parece ser inspirado em parte pelo conceito de gigantes que moldam a terra, similar ao Daidarabocchi.
Sua habilidade de mover massas continentais é uma reminiscência do poder que o Daidarabocchi supostamente possuía para criar montanhas e lagos.